VACINAÇÃO OCUPACIONAL BENEFICIA FUNCIONÁRIOS, EMPRESAS E SOCIEDADE

ANDRÉ CÁCERES - ESPECIAL PARA O ESTADO DE S. PAULO

19/02/2016 | 07h000

Número de profissionais em idade avançada, que demandam maiores cuidados com a saúde, aumenta e já representam um em cada quatro no mercado de trabalho

Além de prevenir a proliferação de doenças transmissíveis e beneficiar a qualidade de vida do trabalhador, a vacinação ocupacional, oferecida por algumas empresas a seus funcionários, traz vantagens também para os empregadores, que reduzem gastos com as ausências por adoecimento. Essas ações são tão benéficas que alguns profissionais em idade mais avançada vêm sendo imunizados não apenas contra gripe, mas também pneumonia e outras doenças. 

No entanto, o infectologista Esper Kallas diz que não há orientação nesse sentido. "O que existe é a recomendação de imunização de adultos, feita pelo calendário do Ministério da Saúde. As vacinas para profissionais só são específicas para trabalhadores que correm riscos, como quem tem de fazer exploração de cavernas ou veterinários que trabalham com animais selvagens, por exemplo", explica o membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Imunologia e médico do Hospital Sírio-Libanês. 

O cenário atual aponta que os trabalhadores em idade avançada vêm aumentando consideravelmente. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2003, apenas 16,7% da população economicamente ativa tinha 50 anos ou mais. Esse número pulou para 25,2% em dezembro de 2015, evidenciando uma maior necessidade de cuidados com a saúde do trabalhador.

Kallas vê com bons olhos as ações de imunização. "As pessoas adultas que dão seguimento no calendário são menos de 10%. Só o fato de você recomendar as vacinações regulares, já contribui para evitar doenças", destaca o infectologista, mas ainda faz ressalvas. "O que é um pouco questionável é que a vacina contra gripe, diminuindo o volume de faltas, sugere que pode ser útil economicamente para a empresa", completa o infectologista.

As vacinas indicadas para os trabalhadores com 60 anos ou mais, de acordo com o Ministério da Saúde, são: três doses contra hepatite B; uma dose e um reforço para febre amarela; e um reforço a cada dez anos da dupla para adultos. O calendário de vacinação da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) acrescenta a essa lista as vacinas pneumocócicas, a tríplice bacteriana e uma dose contra a influenza, além de outras que são pagas, como a tríplice viral.

A SBIm também conta com um calendário voltado para a imunização ocupacional, listando as vacinas recomendadas para trabalhadores de setores específicos, como atletas, militares, policiais, veterinários, manicures, profissionais do sexo, da área da saúde, funcionários que viajam muito, lidam com crianças ou com estrangeiros. 

O outro lado

 Muitas empresas já oferecem vacinação gratuitamente a seus funcionários, geralmente contra a gripe. "Gradativamente a gente percebe que a demanda tem aumentado. É uma cultura que aos poucos tomou conta do setor industrial", comemora o diretor de operações do SESI, Marcos Tadeu de Siqueira. 

Ele cita uma ampla campanha que imunizou cerca de 930 mil profissionais do setor industrial em 2013. "Associamos o gesto vacinal a um estudo epidemiológico, entendendo onde a gripe ocorre com maior incidência e qual o benefício que a gente apurou. Chegamos à conclusão de que foram evitados 63 mil casos de gripe, com base nos números de anos anteriores", destaca.

Siqueira enfatiza os benefícios das ações preventivas tanto para os funcionários quanto para os empregadores. "Pode-se inferir que as indústrias tiveram cerca de 71 milhões de reais de retorno sobre o investimento realizado. Para cada trabalhador vacinado, houve uma economia de 107 reais para a empresa", afirma. Mesmo convertendo as cifras para o câmbio atual, é uma situação muito favorável. "Para cada real investido em vacinas, são dois reais de retorno em gastos evitados", pontua o diretor.

O diretor de operações ressalta que, quanto menos o trabalhador adoece, mais qualidade de vida ele tem e maior é a sua produtividade. "Trabalhamos com dois conceitos: o absenteísmo, quando o funcionário não vai trabalhar; e o presenteísmo, que é quando ele comparece sem as condições ideais de trabalho. Pode estar sob efeito de um medicamento que gera sonolência, fica mais sujeito a acidentes de trabalho e menos produtivo. A ação preventiva reduz os dois problemas". 

Vantagens para todos

 Marcelo Pustiglione, membro da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, lista uma série de benefícios decorrentes da vacinação ocupacional. "Estamos protegendo o trabalhador de doenças infecciosas, evitando a transmissão para clientes, pacientes e consumidores, ampliando a proteção de grupos vulneráveis de trabalhadores, como os idosos, e proporcionando a atualização vacinal de um segmento significativo da população", relata o especialista. 

O médico do trabalho afirma que o único grupo que deve sempre ser vacinado pelas empresas são os profissionais da saúde, para reduzir o risco de transmissão de doenças para pacientes vulneráveis, mas aponta para a necessidade de estruturar um programa de vacinação ocupacional que leve em consideração a possibilidade de contágio de determinados trabalhadores no exercício de suas atividades.

Pustiglione acredita na necessidade da vacinação de profissionais por uma questão de saúde, e não apenas porque isso é vantajoso financeiramente para as empresas. "Eu entendo que se deve investir em vacinas para reduzir a possibilidade de adoecimento e morte das pessoas decorrentes de doenças evitáveis. A redução do absenteísmo é uma consequência e não deverá jamais ser o motivo da vacinação", salienta o médico do trabalho. 

Ele informa que a melhor época para realizar as ações preventivas estão de acordo com o calendário recomendado pelo Ministério da Saúde, em geral dois meses antes do inverno antes do inverno. "Entretanto, nada impede que a empresa proporcione a atualização vacinal de seus funcionários em épocas especificas, como por exemplo na Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho", conclui o médico. De todos os pontos de vista, é melhor prevenir do que remediar.