A HOMEOPATIA NA LITERATURA - MONTEIRO LOBATO UM ARAUTO DA HOMEOPATIA NO PERIODO PRÉ-MODERNISTA BRASILEIRO

José Bento Monteiro Lobato

Nascimento: 18 de abril de 1882 (Taubaté - São Paulo).

Falecimento: 4 de julho de 1948 (São Paulo – São Paulo).

Advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Largo de São Francisco) em 1904. Foi um dos primeiros autores de literatura infantil de nosso país e de toda América Latina. "O Sítio do Pica-pau Amarelo" é sua obra de maior destaque na literatura infantil. Destaca-se pelo caráter nacionalista e social. O universo retratado em suas obras são os vilarejos decadentes e a população do Vale do Paraíba (foi o criador do “Jeca Tatú”), quando da crise do café. Situa-se entre os autores do Pré-Modernismo, período que precedeu a Semana de Arte Moderna.


O que não consta na biografia deste grande e culto brasileiro é que ele era, como se dizia na época, um “adepto” da Homeopatia por considerá-la barata e eficiente. Isto pode ser verificado em algumas cartas coletadas em a “Barca de Gleyre” [*1].

Reproduzimos abaixo uma delas, exatamente aquela em que Lobato, em 1912, relata a Rangel [*2] quando e porque “aderiu” à Homeopatia.

[*1] [Lançado em 1944 este livro compila cerca de quarenta anos da correspondência ativa de Monteiro Lobato com Godofredo Rangel. Um dos mais extensos testemunhos epistolares de que se tem notícia no país mostra toda uma trajetória de vida, da fase inicial dos sonhos e utopias juvenis ao desencanto da velhice, passando pela maturidade das lutas, conquistas e projetos realizados].

[*2] [José Godofredo de Moura Rangel, escritor e tradutor brasileiro, nascido em 1884 na cidade de Carmo de Minas, Minas Gerais e falecido em 1951 em Belo Horizonte, Minas Gerais].

Rangel

A Homeopatia... Eu pensava como você, ou pior ainda, não me dava ao trabalho de pensar coisa nenhuma a respeito. Não acreditava nem desacreditava. Não pensava no assunto e pronto. Mas, um dia sobreveio o estalo e fiquei tonto. O meu Edgarzinho apareceu com uma doença no nariz. Isso na fazenda. Ele tinha dois anos. Corro a Taubaté. Consulto os médicos locais. “O melhor é ver um especialista em São Paulo”. Vamos para São Paulo. ”Quem é o baita para narizes?” J. J. da Nova. Examina, cheira, fuça e vem com um grego. “Rinite atrófica”. Só pode sarar lá pelos dezoito ou vinte anos, mas vá fazendo umas insuflações com isto. E me deu uma droga e um insuflador. Voltamos para Taubaté muito desapontados. Dezoito anos! Mas minha casa era defronte a de uma prima. Vou vê-la. Tenho de esperar na sala de visitas um quarto de hora. Em cima da mesa redonda está um livro de capa verde. Abro-o. Bruckner, o médico homeopata. Instintivamente procuro a seção “Nariz”. Leio conjunto de sintomas. Um deles coincide com os sintomas de Edgar. Prescrição: Mercurius. Entra a prima. “Vale a pena isto de Homeopatia?”. Pergunto cético. E ela: ”experimenta, não custa nada”. Quando saí passei pela farmácia. “Tem Mercurius?”. Tinha. Comprei cinco tostões. Almeida Cardoso – Rio. Levo para casa. Falo a Purezinha. Sem fé nenhuma dou os carocinhos ao Edgar. Mais que mandavam as instruções, cinco em vez de três. Depois, mais cinco. No dia seguinte o milagre: todos os sintomas da rinite haviam desaparecido, mas sobreviera uma novidade: purgação nos ouvidos. Cheio de confiança corro à casa da prima atrás do livro de capa verde. Procuro “Ouvido” e leio esta maravilha: “às vezes sobrevém purgação no ouvido por sobrecarga de Mercurius e, nesse caso, o remédio é Sulphur”. Vou voando à farmácia e compro Sulphur. Mais quinhentos réis. Dou Sulphur ao Edgar e pronto. Sarou do ouvido. Sarou da rinite. Sarou de tudo. Preço da cura: mil reais. Pela alopatia, em troca da não cura, várias consultas médicas, viagens a São Paulo, drogas insuflantes e aparelho insuflador e a desesperança. Que fazer depois disso, Rangel, senão mandar vir um livro de capa verde e uma botica com todas as homeopatias do Almeida Cardoso? Cem mil réis custou-me e desde então curo tudo em casa e no pessoal da fazenda. Fiquei com fama de mágico. Vem gente dos sítios vizinhos.”Ouvi dizer que o senhor é um bom doutor, que cura”- e curo mesmo. Chega a vir gente até do município vizinho atrás dos “carocinhos mágicos”.

Lobato